Bag om A Filha do Arcediago
Leitores! Se há verdade sobre a Terra, é o romance que eu tenho a honra de oferecer às vossas horas de desenfado.Se sois como eu, em coisas de romances (que no resto, Deus vos livre, a vós, ou Deus me livre a mim), gostareis de povoar a imaginação de cenas que se viram, que se realizaram, e deixaram de si vestígios, que fazem chorar, e fazem rir. Esta dualidade, que caracteriza todas as coisas deste globo, onde somos inquilinos por mercê de Deus, é de per si um infalível sintoma de que o meu romance é o único verdadeiro.Eu sou um homem que sabe tudo e muitas outras coisas. Não espreito a vida do meu próximo, nem ando pelos salões atrás de uma ideia que possa estender-se por um volume de trezentas páginas, que, depois, vil espião, venho vender-vos por 480 réis. Isso, nunca.Tudo isto que eu sei, e muito mais que espero saber, é-me contado por uma respeitável senhora, que não vai ao teatro, nem aos cavalinhos, e que tem necessidades orgânicas, mas todas honestas, e, entre muitas, é predominada pela necessidade de falar onze horas em cada dez. Desde que tive a ventura de conhecê-la, não invejo a sorte de ninguém, porque vivo debaixo das mesmas telhas com esta boa senhora, e posso satisfazer a mais imperiosa necessidade da minha organização, que é estar calado. E que não podemos falar ambos ao mesmo tempo.
Vis mere