Bag om A Sereia
Singularidade que enchia de dor quem ouvia cantar divinalmente a pobre louca! Dor e espanto daquela formosura de cadáver entoando, ora triste ora alegre, os cantares monásticos da semana da paixão, ou as seguidilhas voluptuosas de Espanha. As senhoras Cunhas entrajavam-na primorosamente; e ela deixava-se vestir com marmórea quietação. Ia com elas à sala, sentava-se ao piano, erguia-se para sentar-se no canapé, e não respondia a pergunta nenhuma, salvo as da família que ela denominava os seus querubins.E, no concurso de cavalheiros que afluíam a ouvi-la, havia um de apelido de Melo e Nápoles que se entrou duma paixão invencível daquela mulher morta, que tinha uma hora de ressuscitada, quando as teclas do piano a galvanizavam. Este cavalheiro chorava na presença e na ausência dela. Votou a Deus que lhe levantaria um templo, se alvorecesse luz de razão naquela eterna noite.Como Francisco da Cunha usava chamar-lhe a sua sereia, Joaquina era assim conhecida de fidalgos e humildes em Viseu. Diziam: a SEREIA apareceu ontem na sala; a SEREIA teve um acesso depois que cantou. E o povo, na sua linguagem cândida e pitoresca, dizia: Vimos hoje a SEREIA numa janela do palacete: olhava para o céu que parecia uma santinha.
Vis mere