Bag om As Três Irmãs
"Nunca tanto incentivo a saudades feriu juntamente o coração das três irmãs, que iam apartar-se. Então foi o recordarem os anos da infância e da juventude. - Quando nosso pai - dizia Eulália - olhando por todos nós, sentadas a costurar no esteirão, nos dizia: Amai-vos, filhas; saboreai estes curtos dias de prazer sem reveses de lágrimas; vede se podeis demorar a luz do relâmpago da bem-aventurança que alumia a mocidade; segurai-o, filhas, com a inocência e com a ignorância da vida, para que mais tarde sejais chamadas a pagar o tributo de lágrimas. Cedo ou tarde será... Lembras-te, Maria? Não te parece que o estás vendo com o cotovelo encostado à cadeira de nossa mãe?- Recordemos, recordemos, minhas irmãs - dizia Jerónima. - Apertemos o coração com as aflições, que às vezes a dor diminui assim. O que se fez da nossa vida!... Ainda há dez anos tão venturosas, sem pensar na riqueza, mas tanta gente a dizer-nos que éramos ricas, e nós parece que perguntávamos umas às outras o que importava ser ricas!... E os amigos de nossa casa nem depois nos apareceram para nos dizerem que estávamos pobres! Como é o mundo!... Parece que se apagou a luz que víamos no Céu da nossa mocidade! Eu penso tanto nisto, minhas irmãs, e com tamanha saudade de bens para sempre perdidos! Não foi a desgraça que me fez negra a vida. Foi ver que uma parte da família se dispersou pelas sepulturas, e a outra vai demandar o destino que Deus lhe reserva. Existe apenas um ente feliz: és tu, Maria! São tantas as recompensas da tua vida cortada de privações, que serias injusta se arguísses a Providência!..."
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