Bag om Eusébio Macário
Publicada a 1a ed. do "Eusébio Macário", a reacção crítica dos realistas-naturalistas, atingidos pela violenta paródia foi tal, que Camilo, alguns meses depois, redige um outro texto, para servir de "Prefácio da Segunda Edição" (de 1880). Atingindo o cúmulo da sua estratégia parodística, afirma estranhar a reacção dos adeptos da estética realista, numa atitude de falsa modéstia e jocosa ingenuidade: "O tímido autor esperava que os artistas não refugassem a obra tracejada, e afirmassem que eu, nesta decrepitez em que faço ao estilo o que os meus coevos de juventude fazem ao bigode, não podia penetrar com olho moderno os processos do naturalismo no romance". O indisfarçável propósito ridicularizador aumenta ainda consideravelmente, quando Camilo declara que o seu pastiche paródico não passa de uma brincadeira rápida e de fácil execução: "Ora a coisa em si era tão fácil que até eu a fiz, e tão vaidoso fiquei do Eusébio Macário que o reputo o mais banal, mais oco e mais insignificante romance que ainda alinhavei para as fancarias da literatura de pacotilha. Se eu não escrevesse de um jacto, e sem intermissões de reflexão, carpir-me-ia do tempo malbaratado". Para o Camilo trocista, a temporária e falsa conversão ao realismo-naturalismo mais não fora do que um exercício de estilo, pois não esconde as intenções de apoucar e ridicularizar as técnicas e os processos da nova estética romanesca, mesmo quando declara exactamente o contrário: "Cumpre-me declarar que eu não intentei ridicularizar a escola realista".
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