Bag om Vinte Horas de Liteira
O progresso é uma voragem!A liteira já se debate nas fauces do monstro. Vai cair a fatal hora! Daqui a pouco, a liteira desaparecerá da face da Europa.O derradeiro refúgio da anciã era Portugal. Nem aqui a deixaram neste museu de antigualhas! Nem aqui! A pobrezinha, a decrépita, coberta do pó e suor de sete séculos, tirita estarrecida de pavor, escutando o hórrido fremir do wagon, que bate as crepitantes asas de infernal hipogrifo.Ao passo que o vapor talava os plainos, galgava ela, espavorida, os desfiladeiros para esconder-se. Mas o camartelo e o rodo escalaram o agro e penhascoso das serras, e a liteira, acossada pelo char-à-bancs, sumiu-se ainda nas veredas pedregosas, e acoitou-se à sombra do solar alcantilado e inacessível ao rodar da sege.É aí que a coeva do Portugal das crónicas se estorce e vasqueja no último alento.
Vis mere